2 de março de 2013

Mnemonicamente

Créditos: www.frasesdepensadores.com.br
“Nada há de permanente, exceto a mudança”, disse outrora Heráclito de Éfeso, “pai da dialética”, o grande filósofo grego do período pré-socrático. Nada há de permanente, exceto a mudança, sustenta esses anos todos, um pensador contemporâneo que conheço de compartilhar pensamentos e experiências, e a quem dedico esta crônica. Se há uma pessoa de bordões, de citações com quem tenho o prazer de trocar ideias, visto que é extremamente inteligente e acessível, está aí a personalidade desta prosa.

Antes, porém, de qualquer elucidação de nomes e de atos, seria importante me ater à questão chave que é o bordão, que é o dito, que muito mais do que uma roupa, muito mais do que um símbolo, constrói a figura de algo ou de alguém, produzindo a lembrança.

Quem não admite que os bordões sejam uma técnica infalível para fazer algo perenizar? Neste caso, dependendo da intenção ou mesmo de uma despretensão, a perenização poder-se-ia dar no centro das atenções, ou no mínimo, na vaga lembrança.

É isso que a televisão sabe fazer, e o faz com maestria, seja nas novelas, pela voz dos atores, seja em programações esportivas através dos inflamados locutores.

Os bordões exercem uma forma de fixação cerebral, fazendo com que a pessoa, ou não se desligue do conteúdo recebido, de certa forma atrelando-a a determinada emissora, ou se permita, nas conversas do dia a dia, a momentos estanques em que se utiliza das pérolas escritas por calejados roteiristas, enquanto vive a vida.

É uma técnica interessante? Sem dúvida. É o que a publicidade tem de mais inteligente, a fim de conquistar a audiência desejada, princípio, meio e fim no mercado da mídia.

Paralelamente, há os bordões intelectuais, o que eu chamaria de frases de efeitos e, neste caso, nada imposto por mídia ou algo do tipo. Dizeres incorporados através de anos de estudos ou reflexões acerca do que se passa na sociedade dia após dia.

No primeiro caso, os bordões da mídia como isca para fisgar o público, podem tornar-se perniciosos, no instante em que leva a pessoa a repetir, como papagaios, falas impostas, sem a mínima crítica possível. Pessoas alienadas, que marcham obedientes em direção ao consumo desenfreado, seguindo a ditadura da moda, a imposição de modos, encontrados a todo o momento, em cada esquina.

Felizmente, há os que se apossam de termos copiados nos meios de comunicação com humor e crítica, isento de culpa, casos em que relações se processam de maneira saudável. É o chamado senso de aproveitamento de recursos publicitários, a fim de demonstrar simpatia, bom humor e até mesmo intelectualidade (entre aspas) em material de senso comum.

No segundo caso, acerca dos bordões intelectuais, poucas vezes convivi com pessoas que se utilizassem desse recurso para direcionar uma conversa, diferentemente do que se faz em termos midiáticos, sem nenhuma pretensão de permanecer no pensamento de alguém.

O que ocorre é que convivendo com esse nível de pessoas, altamente intelectuais, ou pensadoras, como lhes caberia melhor o termo, a gente vai incorporando na vida, aquilo que eu chamaria de mnemonização.

A saber, técnica em que através de associações de diversos tipos, firma-se um determinado conceito ou pensamento, ou seja, facilita a lembrança de algo.

Nessa linha de raciocino, ressalto a figura de um ilustre colega, o único com quem convivi por pelo menos dez anos, e que soube tão bem ilustrar suas falas, pensamentos e reflexões com bordões contundentes, sobretudo, altamente intelectuais e reflexivos.

Bordões como: “Em relação à Educação de hoje, os professores devem exercer uma prática 50% Piaget e 50% Pinochet”, ou “Certa administração tem pensamentos futuristas com atitudes coloniais”, são dois exemplos das manifestações mais veementes do brilhante colega, que tendo sido brindado com uma importante recompensa, pelos seus anos de luta, em prol da justiça social, hoje se aparta do grupo de forma imediata, embora ainda, permaneça ligado ao mesmo grupo e a outros grupos, de forma indireta, todavia com a mesma competência e intelectualidade de sempre.

Na linha do humor ou do jogo de cintura, poucas pessoas com quem me relacionei, foram tão competentes na arte de associar ao assunto comentado, uma anedota ou um trocadilho, açucarando uma amarga situação de conflito e tornando um momento enfadonho, em animado convívio.

Não intencionalmente, seus bordões e brincadeiras, num ato inconsciente de mnemonização nos facilitarão sua lembrança.

Não seja este, um texto de despedida, pois quem deixa um legado nunca se despede, ao contrário, torna-se referência. E em que pese esse legado, quando caracterizado por coisas que se referem à memória, ao pensamento, à reflexão e à sabedoria, há que se perenizar, no centro das atenções, ou na vaga lembrança. Mas, de qualquer forma, em algum lugar na lembrança.

Em nosso caso, não se descarte a hipótese de que, com o decorrer dos anos, uma ou outra vez, alguém se furte, ao fato de repetir um dos bordões intelectuais citados, ou mesmo outros, dos quais não me lembrei, com a seguinte conclusão: “Como diria Antonio Claudio.”


© Carlos José dos Santos – 27/2/2013
Ao  colega,  Prof. Antonio Claudio Barbosa, convidado para ocupar o cargo de Chefe de Divisão do Ensino Fundamental na Secretaria Municipal de Educação de São José dos Campos

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