De idade avançada, e tendo todos os seus direitos desrespeitados apesar de um estatuto que não conseguia ler, resolveu por fim à solidão. Teve a feliz ideia de construir um boneco de madeira para fazer-lhe companhia e para ajudá-lo a cuidar da casa.
Bem cedinho, o velho
dirigiu-se para a floresta encantada e escolhendo entre as árvores, a mais
antiga e bonita, levou dela consigo, enormes galhos.
Trabalhou sem folga o
dia todo e ao terminar o serviço, admirou sua obra. Disse que o que tinha feito
era tudo muito bom e desejou ardentemente que o boneco tivesse vida.
Dormiu
aquela noite um sono de pedra, mas na manhã, teve o dia mais feliz e suave de
todos os tempos, pois seu bonequinho pulava, cantava e falava pelos cotovelos.
Todavia,
não demorou muito para que reinasse naquela casa uma grande confusão: o boneco
era um mentiroso dos piores e um fazedor de promessas de marca maior.
Para começar o dia, a
primeira coisa que o boneco prometeu foi apanhar lenha no bosque para abastecer
o fogão. Cumpriu? Que nada!
Seu
narizinho de madeira cresceu dez centímetros por causa da promessa não cumprida,
embora o marotinho nem sequer se desse conta.
Prometeu
ainda ao avô, varrer a casa, limpar o quintal, lavar as louças do almoço, ser
bom boneco, trabalhar na carpintaria e tantas coisas mais. Cumpriu? Nem um só
dos juramentos!
Seu
narizinho virou um narigão de cinquenta centímetros e poderia ser usado como um
cabide se assim o quisesse.
Foi
desse modo que o boneco falante tornou-se popular nas redondezas, fato que o
fez eleito para um importante cargo político na cidade.
Engana-se quem pensa pensa
que depois disso as mentiras acabaram.
O número de promessas aumentou
e entre elas estavam asfaltar ruas, cuidar dos doentes, construir escolas,
criar mais empregos, promover uma reforma agrária na região, e blá, blá, blá,
blá...
O pior de tudo, é que
para cumprir essa lista enorme de promessas, o candidato eleito anunciou ser
necessário aumentar o próprio salário.
Não cumpriu as promessas
nem em sonho, mas seu salário dobrou, acrescido com a ajuda dos companheiros,
que não eram de madeira, mas lavavam o rosto com óleo de peroba.
Quem
olhasse agora para aquele boneco animado, criado pelas mãos habilidosas de um
bom velhinho ao entalhar a matéria de uma árvore encantada, veria uma figura de
pedra, irreconhecível, com um narigão que já passava de um metro de
comprimento.
Espantou-se também o boneco político com a coisa em que se transformara, ao parar pela primeira vez diante do espelho. E foi inconformado por ter que se mirar de longe e não conseguir se encarar, que pediu ajuda.
Para a sorte do endurecido político, veio em seu socorro uma de suas eleitoras e, apresentando-se como fada madrinha, levou-o para conhecer as favelas, os hospitais, as escolas, os meninos de rua, os desempregados e as pessoas que sobreviviam com um salário cem vezes menor que o dele.
Espantou-se também o boneco político com a coisa em que se transformara, ao parar pela primeira vez diante do espelho. E foi inconformado por ter que se mirar de longe e não conseguir se encarar, que pediu ajuda.
Para a sorte do endurecido político, veio em seu socorro uma de suas eleitoras e, apresentando-se como fada madrinha, levou-o para conhecer as favelas, os hospitais, as escolas, os meninos de rua, os desempregados e as pessoas que sobreviviam com um salário cem vezes menor que o dele.
Inovidavelmente, o político
de pedra, compadeceu-se de tudo o que viu, por isso disse à fada que estava
pronto para mudar.
Começou
dali em diante a cumprir tudo o que prometera. Mirou-se mais vezes no espelho,
deixou de curvar-se ao dinheiro, testemunhou seu nariz diminuindo, sentiu
pulsar o coração e percebeu calor em seu corpo.
O boneco virou gente.
O boneco virou gente.
©
Carlos José dos Santos - Todos os Direitos Reservados
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Ah, aqui você respondeu minha pergunta - é uma novela - fiz a pergunta no capítulo 2 sem ler a apresentação; gosto deste estilo. Desejo sucesso.
ResponderExcluirCaro amigo, saudaçoes literárias,
ExcluirFico grato pela sua visita. Fique à vontade, pois a casa é dos amantes das letras. Abraço.