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Créditos: www.frasesdepensadores.com.br |
“Nada há de permanente, exceto a mudança”, disse outrora Heráclito de
Éfeso, “pai da dialética”, o grande filósofo grego do período pré-socrático. Nada
há de permanente, exceto a mudança, sustenta esses anos todos, um pensador
contemporâneo que conheço de compartilhar pensamentos e experiências, e a quem
dedico esta crônica. Se há uma pessoa de bordões, de citações com quem tenho o
prazer de trocar ideias, visto que é extremamente inteligente e acessível, está
aí a personalidade desta prosa.
Antes, porém, de qualquer elucidação de nomes e de atos, seria importante
me ater à questão chave que é o bordão, que é o dito, que muito mais do que uma
roupa, muito mais do que um símbolo, constrói a figura de algo ou de alguém,
produzindo a lembrança.
Quem não admite que os bordões sejam uma técnica infalível para fazer
algo perenizar? Neste caso, dependendo da intenção ou mesmo de uma
despretensão, a perenização poder-se-ia dar no centro das atenções, ou no
mínimo, na vaga lembrança.
É isso que a televisão sabe fazer, e o faz com maestria, seja nas
novelas, pela voz dos atores, seja em programações esportivas através dos
inflamados locutores.
Os bordões exercem uma forma de fixação cerebral, fazendo com que a
pessoa, ou não se desligue do conteúdo recebido, de certa forma atrelando-a a
determinada emissora, ou se permita, nas conversas do dia a dia, a momentos
estanques em que se utiliza das pérolas escritas por calejados roteiristas,
enquanto vive a vida.
É uma técnica interessante? Sem dúvida. É o que a publicidade tem de mais
inteligente, a fim de conquistar a audiência desejada, princípio, meio e fim no
mercado da mídia.
Paralelamente, há os bordões intelectuais, o que eu chamaria de frases de
efeitos e, neste caso, nada imposto por mídia ou algo do tipo. Dizeres
incorporados através de anos de estudos ou reflexões acerca do que se passa na
sociedade dia após dia.
No primeiro caso, os bordões da mídia como isca para fisgar o público,
podem tornar-se perniciosos, no instante em que leva a pessoa a repetir, como
papagaios, falas impostas, sem a mínima crítica possível. Pessoas alienadas,
que marcham obedientes em direção ao consumo desenfreado, seguindo a ditadura
da moda, a imposição de modos, encontrados a todo o momento, em cada esquina.
Felizmente, há os que se apossam de termos copiados nos meios de
comunicação com humor e crítica, isento de culpa, casos em que relações se
processam de maneira saudável. É o chamado senso de aproveitamento de recursos
publicitários, a fim de demonstrar simpatia, bom humor e até mesmo
intelectualidade (entre aspas) em material de senso comum.
No segundo caso, acerca dos bordões intelectuais, poucas vezes convivi
com pessoas que se utilizassem desse recurso para direcionar uma conversa,
diferentemente do que se faz em termos midiáticos, sem nenhuma pretensão de
permanecer no pensamento de alguém.
O que ocorre é que convivendo com esse nível de pessoas, altamente
intelectuais, ou pensadoras, como lhes caberia melhor o termo, a gente vai
incorporando na vida, aquilo que eu chamaria de mnemonização.
A saber, técnica em que através de associações de diversos tipos,
firma-se um determinado conceito ou pensamento, ou seja, facilita a lembrança
de algo.
Nessa linha de raciocino, ressalto a figura de um ilustre colega, o único
com quem convivi por pelo menos dez anos, e que soube tão bem ilustrar suas
falas, pensamentos e reflexões com bordões contundentes, sobretudo, altamente
intelectuais e reflexivos.
Bordões como: “Em relação à Educação de hoje, os professores devem exercer
uma prática 50% Piaget e 50% Pinochet”, ou “Certa administração tem pensamentos
futuristas com atitudes coloniais”, são dois exemplos das manifestações mais
veementes do brilhante colega, que tendo sido brindado com uma importante
recompensa, pelos seus anos de luta, em prol da justiça social, hoje se aparta
do grupo de forma imediata, embora ainda, permaneça ligado ao mesmo grupo e a outros
grupos, de forma indireta, todavia com a mesma competência e intelectualidade
de sempre.
Na linha do humor ou do jogo de cintura, poucas pessoas com quem me
relacionei, foram tão competentes na arte de associar ao assunto comentado, uma
anedota ou um trocadilho, açucarando uma amarga situação de conflito e tornando
um momento enfadonho, em animado convívio.
Não intencionalmente, seus bordões e brincadeiras, num ato inconsciente
de mnemonização nos facilitarão sua lembrança.
Não seja este, um texto de despedida, pois quem deixa um legado nunca se
despede, ao contrário, torna-se referência. E em que pese esse legado, quando
caracterizado por coisas que se referem à memória, ao pensamento, à reflexão e
à sabedoria, há que se perenizar, no centro das atenções, ou na vaga lembrança.
Mas, de qualquer forma, em algum lugar na lembrança.
Em nosso caso, não se descarte a hipótese de que, com o decorrer dos
anos, uma ou outra vez, alguém se furte, ao fato de repetir um dos bordões
intelectuais citados, ou mesmo outros, dos quais não me lembrei, com a seguinte
conclusão: “Como diria Antonio Claudio.”
© Carlos José dos Santos –
27/2/2013
Ao colega,
Prof. Antonio Claudio Barbosa, convidado para ocupar o cargo de Chefe de
Divisão do Ensino Fundamental na Secretaria Municipal de Educação de São José
dos Campos