No capítulo anterior, enquanto Valquíria está na sala
de leitura, apresentando o trabalho solicitado pelo Prof. Cido, seus pais
correm ao hospital para prestarem ajuda à mãe de Letícia, que foi acidentada. Letícia
está atenta ao trabalho e nem imagina que o hospital entrava em contato com a
vizinha para dar notícia da entrada de sua mãe no pronto-atendimento. O pai de
Letícia, Ronaldo, após ser avisado do ocorrido pela mesma vizinha corre para
lá, chegando desesperado.
Pablo, Valquíria e Soraia passam o livro Cyrano de Bergerac
no círculo. Um a um, vão olhando, enquanto ouvem o discurso dos três
adolescentes sobre a história. A turma se mostra muito interessada e, numa
ocasião ou outra, dão risinhos e cochicham comentários sobre o assunto.
PABLO
Como eu ia dizendo, o nome do autor
da peça que lemos é Edmond Rostand, um escritor francês.
VALQUÍRIA
A peça foi escrita em 1887, inspirada na vida
de Hector Savinien de Cyrano de Bergerac, um espadachim que teria participado
de mil duelos.
LUNA
Nossa! O duelo era algum tipo de
esporte da época?
SORAIA
Não. Era uma forma de as pessoas
acertarem suas diferenças umas com as outras.
JEFERSON
Cada época com sua mania. Hoje nós
acertamos nossas diferenças com socos e bicudas!
Riso
geral.
LETÍCIA
Só que muitas vezes, vocês partem
pra violência por motivos muito bobos.
PROF. CIDO
E vocês acham que existem motivos
inteligentes para se partir para uma briga?
LETÍCIA
Nenhum motivo deveria levar as pessoas a partirem
para a ignorância. Não é melhor resolver as coisas no diálogo?
LUÍZA
Falou a Santinha da turma! Se o tal
Bergerac partia pro duelo era porque tinha bons motivos para isso!
CENA 2 – HOSPITAL E
MATERNIDADE LUZ – INT./DIA
Entra e sai de médicos e enfermeiros. Pacientes em
macas chegam a todo instante. A atendente acalma Ronaldo. Na poltrona, Sandro e
Zuleica fixam os olhos em Ronaldo, enquanto ele é acalmado pela atendente.
ATENDENTE
Fique calmo, Senhor Ronaldo! Já faz um
tempo que ela entrou. Logo, logo o médico vem falar com os familiares.
RONALDO
Familiares? Mas só
estou eu aqui.
ATENDENTE
E aqueles dois ali?
Não são parentes do senhor ou da sua esposa?
RONALDO
Por certo que não.
Nem conheço eles.
ATENDENTE
Então deve ser outra paciente que estão
procurando. Por que o senhor não senta-se naquela poltrona? (Aponta outra poltrona no meio da sala)
RONALDO
Vou esperar de pé mesmo. Tô muito nervoso
pra ficar sentado. Esses barbeiros idiotas que não sabem dirigir deviam ficar
em casa ou andar de ônibus. Se eu pego o criminoso...
CENA 3 –
COLÉGIO/BLOCO B - SALA DE LEITURA – INT./DIA
A roda de conversa sobre o livro lido pela turma continua. O professor faz cara de satisfeito com a pesquisa realizada. Mostra-se interessado pela obra escolhida pelo grupo de Pablo. A turma fica em silêncio.
PABLO
Os motivos dos homens para a luta naquela
época eram por fortes emoções. Defender a honra, por exemplo.
JEFERSON
E que motivo tão forte teria esse tal de
Cyrano de Bergerac para chamar tanta gente pro duelo assim?
VALQUÍRIA
Ele duelava para se vingar dos que o
insultavam por causa de seu narigão. E olhe que ele vencia todas as disputas,
hein!
Gargalhada geral. Neste momento todos olham apontando para
o nariz de Jeferson.
JEFERSON
Que foi macacada? Vão
zoar comigo agora por causa do meu nariz? (Protege
o nariz)
PROF. CIDO
Ainda bem que o
Senhor Jeferson não tem uma espada agora ou chamaria a todos para um duelo.
(Rindo)
JEFERSON
Se eu fosse esse
valentão das espadas aí eu queria ver quem ia rir de mim. Cambada de imbecis!
SORAIA
Relaxa, Jeferson!
Foi só uma brincadeira. Deixa a gente continuar.
VALQUÍRIA
Na peça de Edmond Rostand aparecem outros
personagens como Roxane e Christian. A história envolvendo os dois foi
inventada, mas o nome da moça foi escolhido para homenagear a prima de
Bergerac.
LUNA
Quer dizer que a
peça não conta a história do espadachim?
PABLO
Sua verdadeira história não. É uma história
inventada, baseada em alguns detalhes, como os duelos e personagens que levam
os nomes de seus parentes e amigos reais.
LETÍCIA
Nossa! Fiquei muito
curiosa agora. Conta logo essa história pra gente!
PROF. CIDO
Sim. Eles vão
contar como é a peça, mas na próxima aula...
TODOS
(Desanimados) Ahhhh!
PROF. CIDO
Eu também estava gostando do papo, turma,
mas temos apenas um minuto pra arrumar esta sala. Vamos, quero ver todo mundo
ajudando.
Ajudam a organizar a sala. Soa o sinal musical da
escola. Era chegado o fim da aula. Os alunos um a um se despedem do professor.
Depois saem conversando sobre o assunto da aula de leitura.
CENA 4 – HOSPITAL E
MATERNIDADE LUZ – INT./DIA
Na outra poltrona,
Sandro e Zuleica ficam incomodados com o nervosismo de Ronaldo. O homem não
para no lugar exibe uma cara de raiva. Sandro e Zuleica conversam, assustados
com o comportamento do marido agitado.
ZULEICA
Você ouviu, Sandro? O homem tá uma fera com
quem atropelou a mulher dele. Coitado do motorista se aparecer por aqui agora.
SANDRO
Você não se deu
conta de que o motorista barbeiro de quem ele está falando pode ser você?
ZULEICA
Que é isso, Sandro?
Deu pra me ofender, agora!
SANDRO
Não estou te
ofendendo, amor. Só lembrando que a mulher dele pode ser a que você
atropelou...
ZULEICA
(Assustada) Nossa! Estou tão atordoada que não havia
pensado nisso. Que vamos fazer?
SANDRO
Acho melhor a gente ficar bem quieto. Se a
mulher que estamos procurando for a esposa dele, é bem capaz do homem partir pra cima da gente.
ZULEICA
Mas se a gente
falar que está aqui pra ajudar.
SANDRO
Nervoso do jeito
que está, acha que ele vai nos escutar?
Subitamente, Zuleica começa a procurar algo dentro da
bolsa.
ZULEICA
Sandro, você viu
onde eu coloquei o celular? Espera... Acho que o deixei lá no carro.
SANDRO
Quer que eu vá
buscá-lo pra você?
ZULEICA
Não. Eu mesmo vou
lá. Assim penso no que fazer.
Zuleica levanta-se.
Caminha em direção a Ronaldo, que anda de um lado para o outro. Passa por ele,
preocupada.
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