No capítulo
anterior a aula na sala de leitura rende bons comentários. Os estudantes ficam
interessadíssimos pela história de Cyrano de Bergerac. No hospital, os pais de
Valquíria temem o nervosismo do pai de Letícia. Ronaldo, o marido nervoso, anda
de um lado para o outro esbravejando contra o motorista que atropelou sua
esposa. Zuleica fica atordoada em pensar que a motorista de quem Ronaldo está
falando seja ela. Com tanta preocupação, Zuleica se lembra que esqueceu o
celular no carro. Vai até o estacionamento, para pegá-lo, atordoada.
CENA 1 – PORTÃO DO
COLÉGIO/BLOCO B – EXT./DIA
No portão de saída, os estudantes dispersam. Uns vão
para a direita, outros para a esquerda. Outros ainda entram em carros, peruas e
vans que estão estacionadas. Letícia e Valquíria como sempre ficam juntas,
esperando na calçada. Valquíria espera a mãe que vem buscá-la de carro.
Letícia, o irmão que sai do outro portão, do Bloco A, onde estudam somente
crianças.
LETÍCIA
Olha lá! Meu
irmãozinho vem vindo. Parece que hoje ele vai chegar antes da sua mãe, Val.
VALQUIRIA
É estranho. Minha
mãe não costuma se atrasar. Será que aconteceu alguma coisa?
LETÍCIA
Trânsito, miga! Tá
cada vez pior.
VALQUIRIA
Eu já pedi pra ela me deixar vir de
bicicleta! Mas aí tenho que escutar ela dizer: ‘’é perigoso, filhinha!”
LETÍCIA
Que pena, Val, mas não vou poder esperar
com você. Hoje, tenho que ir rápido com o Carlinhos, porque minha mãe quer que
a gente a acompanhe ao supermercado.
VALQUIRIA
Tudo bem, Lety. Vou
ligar pro celular dela...
LETICIA
Então, tá, Val.
Amanhã a gente se fala. (Beijam-se.
Letícia sai com Carlinhos puxando-o pela mão)
Valquíria digita no celular o número da mãe. Ouve tocar
insistentemente e cai na caixa postal. Liga de novo. Toca, toca e depois caixa
postal outra vez. A garota fica irritada.
VALQUIRIA
Detesto esperar.
Vamos! Atende, mãe! Tô com fome!
Valquíria vê os estudantes saindo, indo embora,
entrando nos carros, atravessando ruas e depois de algum tempo os professores
nos seus carros, passando à vista dela.
VALQUIRIA
Letícia que tem sorte de morar perto da
escola. Anda dez minutos e já está em casa. Pior sou eu que se tiver que ir a
pé, vou gastar uma hora pra chegar.
(Pausa) Não sei nem que ônibus se pega pra ir pra casa. E pro táxi não
tenho dinheiro. Que droga!
CENA 2 –
ESTACIONAMENTO DO HOSPITAL – EXT./DIA
Zuleica chega ao estacionamento. Meio estonteada com o
último acontecimento, primeiro erra de carro e tenta abrir um que não é o seu. O
alarme do carro dispara. Ela leva um susto. Em seguida, para e começa a olhar
pra todo lado. Esqueceu em que vaga estava seu carro.
ZULEICA
(Falando consigo mesma) Fica calma, Zuleica!
Tudo vai se resolver. A mulher não vai morrer.
Um segurança se aproxima. O homem é negro, alto e
aparenta mais ou menos 30 anos. Está muito desconfiado. Fica observando até que
resolve chegar mais perto de Zuleica.
SEGURANÇA
Está tudo bem com
senhora?
ZULEICA
Sim. Só estou um
pouco nervosa. Não consigo achar meu carro.
SEGURANÇA
Empreste-me o
documento do carro que eu ajudo a procurá-lo, minha senhora.
Ela entrega a carteira ao segurança. O homem vê o
documento, lê a placa do veículo e conduz Zuleica até o local em que estacionou
o carro.
ZULEICA
Obrigado, rapaz!
SEGURANÇA
Mas a senhora não
está em condição de dirigir pelo que estou vendo.
ZULEICA
Não vou sair daqui.
Só vim pegar meu celular.
O segurança devolve a carteira à mulher e afasta-se,
observando-a de longe. Zuleica abre a porta do carro, tira o celular, olha e se
espanta ao ver mensagens de ligações perdidas.
ZULEICA
Meu Deus! Como fui
esquecer da minha filhinha? Ela deve estar mofando no portão do colégio.
Tenta
ligar para Valquíria, mas parece não se lembrar do número do telefone da filha.
ZULEICA
Que número é mesmo?
Zuleica, parece que o acidente te deixou com amnésia...
Digita
vários números. Enfim consegue falar com a garota.
ZULEICA
Filha, desculpa... Filha! Escuta, filha...
Não, Valquíria... Espera, menina, dá pra você deixar eu falar? Escuta só, mamãe
está perto do colégio, dá pra você vir andando... Eu estou aqui... Filha, que
houve? Droga, desligou... Ah, não, foi a bateria do meu celular que acabou.
Zuleica
corre de volta ao hospital.
CENA 3 – CASA DE
LETÍCIA/PORTÃO – EXT./DIA
Letícia chega com Carlinhos. Vê o portão trancado. Tira
a chave do bolsinho da mochila, abre e entra acompanhada pelo irmãozinho,
caminhando pela rampa que dá acesso à porta da frente. Encontram a porta da
sala trancada. Dão a volta e nos fundos encontram a porta da cozinha também
trancada.
LETÍCIA
Estranho. Será que
mamãe foi ao supermercado sem a gente?
CARLINHOS
Mas ela prometeu
que ia me levar.
LETÍCIA
Mamãe sempre cumpre
o que promete. Deve ter acontecido alguma coisa para ela sair sem a gente.
CARLINHOS
Ela não foi
procurar emprego, hoje?
LETÍCIA
Sim, mas ela disse
que ia de manhã e na hora do almoço já estaria aqui.
A vizinha sai da casa ao lado numa corrida só. Entra
pelo portão da casa de Letícia e vai para os fundos da casa, toda
desconcertada. Leva consigo um papel na mão.
VÂNIA
Crianças, crianças,
vocês podem ficar em casa tá. Foi seu Ronaldo que falou.
CARLINHOS
Na sua casa por
quê, Dona Vânia? Minha mãe resolveu sair sem mim?
LETÍCIA
É dona Vânia. O que
está acontecendo? A senhora está muito agitada.
VÂNIA
Não sei como
contar, crianças, mas a mãe de vocês...
Carlinhos começa a
chorar. Letícia fica branca. Está nervosa.
LETÍCIA
Que foi, d. Vânia?
Fala logo! Onde está minha mãe?
VÂNIA
Olha, fiquem
calmos. D. Eleonora sofreu um acidente hoje de manhã...
Carlinhos abraça Letícia. Chora muito.
Letícia fica desesperada.
LETÍCIA
Onde ela está agora?
Como ela está? Vamos diga, D. Vânia.
VÂNIA
(Disfarçando) Ela
está bem. Vamos pra minha casa, vou fazer um chá pra vocês.
LETÍCIA
Eu não quero chá.
Eu quero ir ao hospital. Onde ela foi internada?
VÂNIA
Seu pai pediu para
vocês ficarem na minha casa.
LETÍCIA
Leva o Carlinhos!
Eu vou ao hospital.
CARLINHOS
(Chorando) Também
vou.
LETÍCIA
Não, Carlinhos. Não
deixam entrar criança lá.
A vizinha, ciente de que a
adolescente não ficaria, entrega a ela um papelzinho que tinha na mão.
VÂNIA
Bom, se você quer
ir, aqui está o endereço. Eu tomo conta do Carlinhos.
Letícia corre pelo corredor como uma doida. Em
instantes alcança a rua, atravessando-a e indo parar no ponto de ônibus. Quer
chegar logo ao hospital. Um ônibus se avista à certa distância. Letícia lê o
letreiro. É o que ela esperava. Dá sinal para o coletivo. Ele pára. Abre. A
menina sobe apressada. O ônibus arranca-se rapidamente. O ponto estava vazio.
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