Capítulo 6


No capítulo anterior, com a ajuda de um segurança, Zuleica consegue encontrar seu carro no estacionamento do hospital. Somente se lembra que a filha está esperando no colégio, quando vê no visor do celular várias ligações da garota. Enquanto isso Letícia e Carlinhos chegam em casa e ficam sabendo pela vizinha que sua mãe sofreu um acidente. Letícia se desespera e desobedece a ordem do pai de ficar com o irmão Carlinhos na casa da vizinha. A adolescente deixa Carlinhos com a vizinha e corre até o ponto de ônibus. Segue em direção ao hospital.


CENA 1 – HOSPITAL E MATERNIDADE LUZ/ SALA DA RECEPÇÃO – INT./DIA

Zuleica volta do estacionamento. Está atordoada. Conversa com Sandro, enquanto observa Ronaldo que senta e se levanta várias vezes.

SANDRO               
Então, amor, encontrou o celular?
           
ZULEICA
             Sim. Estava mesmo no carro. E você não sabe da maior...
           
SANDRO
Algum problema lá no estacionamento?
           
ZULEICA
Não. O problema são as ligações perdidas que estão aqui.
           
SANDRO               
Ah, não. Não me diga que...

ZULEICA
Esqueci completamente da Valquíria. Deve estar uma fera faminta em frente ao portão da escola.

SANDRO               
(Com agitação) Querida, que loucura! Vou agora mesmo buscar a garota.

ZULEICA
Vai, mas volta logo, querido. Não vou suportar ficar aqui sozinha.
           
SANDRO               
Fique tranquila, amor. Vou num pé e volto no outro. (sai apressado)


CENA 2 – PORTÃO DO COLÉGIO/BLOCO B – EXT./DIA

Valquíria se cansa de esperar. Resolve ir andando. Ajeita a mochila em um dos ombros, pendurando-a por uma das alças. Enquanto caminha na calçada, um estranho carro preto, muito próximo ao meio fio acompanha lentamente os passos da garota. Ela corre. O carro aumenta a velocidade. Ela pára. Súbito abre-se a porta do carro e um homem forte a agarra, tampando-lhe a boca. Esperneando, derruba a mochila, enquanto é arrastada. Ela é colocada à força pela porta de trás do carro. O homem forte, trajando um terno preto, bate uma mão na outra como se estivesse limpando-as ao mesmo tempo em que olha para os lados. Entra em seguida no carro, que sai cantando pneu em disparada.


CENA 3 – CASA DE DONA VÂNIA/ SALA DE ESTAR – INT./DIA

Dona Vânia pede a Carlinhos para sentar-se a mesa com a neta de quem toma conta. A menininha tem 10 anos e está fazendo a tarefa escolar. Carlinhos está cabisbaixo. Não olha para Débora. Fica calado, sentado no sofá, tristonho, enquanto lágrimas saem de seus olhos.

VANIA                   
Oh, meu filho. Não fique assim não. Você vai ver como logo, logo sua mãe está de volta.
           
DÉBORA
Carlinhos, não me conhece mais não?
                           
CARLINHOS          
Me deixa!
           
VANIA                   
Tá bom, Carlinhos, fique aí. Vou ligar a televisão e estourar pipoca pra você.

DÉBORA
Oba, também quero. Posso para com a tarefa para assistir televisão com o Carlinhos, vó?
           
VANIA                   
Claro, Débora. Depois você continua. Carlinhos está mesmo precisando de companhia.

Débora senta-se perto de Carlinhos sem falar nada. O menino sai correndo, chorando em direção aos fundos da casa. Encontra um pezinho de limão e é embaixo dele que fica recolhido. Dona Vania olha e vê o garoto lá. Aconselha a neta.

VANIA                   
Você deve estar achando estranho o comportamento de Carlinhos, não é Débora?
           
DÉBORA
Sim, vovó! Ele sempre foi legal comigo. Brincamos juntos quase todos os dias.

                                            VANIA                   
Pois é, querida, mas hoje ele não está com cabeça para brincar. Só pensar na mãe que sofreu um acidente e está no hospital.

                                            DÉBORA
                                            Que triste, né, vó? Vou rezar pra mamãe dele ficar boa.

                                            VANIA                   
                                            Também farei isso, querida! Agora é melhor deixar Carlinhos sozinho com seus pensamentos.


CENA 4 – PORTÃO DO COLÉGIO/BLOCO B – EXT./DIA

Sandro estaciona o carro bem em frente ao portão do colégio. Desce do carro, olhando de um lado para o outro. Encosta-se no carro e espera um pouco, sempre olhando no relógio. Desesperado, empurra o portão. Dá de cara com o diretor que preparava-se para sair.

ANSELMO            
Senhor Sandro, que faz por aqui?
           
SANDRO               
Vim pegar minha filha com um pouco de atraso.
           
ANSELMO            
Com um pouco de atraso? Ela já saiu faz uma hora.
           
SANDRO               
Ué, para onde ela foi então?
           
ANSELMO            
Desculpa, senhor, mas essa resposta eu não posso lhe dar.
           
SANDRO               
Mas ela deveria estar esperando aqui...

ANSELMO            
Convenhamos, senhor Sandro. Acha que uma adolescente consegue ficar esperando alguma coisa por uma hora?
           
SANDRO
O senhor tem razão. Uma hora é muito tempo. Bom, acho que ela foi para casa a pé mesmo.
                           
ANSELMO            
Não poderia ter ido de ônibus ou de táxi?

SANDRO               
É. Vou dar uma ligadinha lá em casa.
           
ANSELMO            
(Com humor) E eu vou almoçar, que meu estômago já está grudado nas costas, como dizem os jovens.
           
SANDRO               
Bom apetite, senhor Anselmo e obrigado.

ANSELMO            
Não há de que! Passar bem, senhor Sandro. Estimo que sua filha esteja bem em casa. (Sai)
                  
Sandro liga para casa. Tenta várias vezes. Só chama. Ninguém atende.

SANDRO               
Onde se meteu essa menina, diacho? (Caminha de um lado a outro) Justo hoje ela foi sumir! Peraí! Ela deve estar do lado de fora da casa. É isso! A Valquíria não tem a cópia da chave. Como pude ser burro! É lógico que ela já chegou a casa, mas como não tem a chave está esperando no quintal. Filhos, filhos!

Sandro dá volta passando atrás do carro. Abre a porta e entra rapidamente. Sai correndo feito um louco.


CENA 5 – HOSPITAL E MATERNIDADE LUZ/RECEPÇÃO – INT./DIA

Ronaldo se cansa de andar de um lado para o outro. Senta-se próximo a Zuleica. Ela fica espantada. Ronaldo puxa conversa.

RONALDO            
Boa tarde! A senhora está com alguém da família internado aqui?
           
ZULEICA
(Nervosa, gaguejando) Não, parente não. Uma amiga.
           
RONALDO            
Ah, claro! Deve ser muito querida essa amiga, né. A senhora já tava aqui quando eu cheguei.
           
ZULEICA
(Ainda nervosa) É sim, grande amiga.
                           
RONALDO            
Vou te contar um segredo: não gosto deste lugar.
           
ZULEICA
De hospital? Também tenho pavor.
           
RONALDO            
Não. Eu to falando que não gosto deste hospital.
           
ZULEICA
Eu não gosto de nenhum, mas pra falar a verdade, este daqui é o que me dá mais pavor.
           
RONALDO            
Deve ser por causa do incêndio não é mesmo? A senhora lembra?
           
ZULEICA
Sim, eu estava internada aqui.
           
RONALDO            
Um dia antes do incêndio, minha mulher deu à luz um menininha.
           
ZULEICA
Que coincidência! Eu também dei à luz uma menininha no mesmo dia.
           
RONALDO            
Sério? Então a senhora passou todo aquele horror.
           
ZULEICA
Sim. Mas graças a Deus os bombeiros conseguiram tirar a todos com vida.

RONALDO            
Sim. Já faz 14 anos. É a idade da minha filha. Minha mulher e eu demos o nome de Letícia para ela.
           
ZULEICA
Bonito nome. Letícia quer dizer alegria.

RONALDO            
Sim. A gente sabia. Foi a maior alegria pra gente quando os bombeiros saíram com as crianças no colo.

ZULEICA
E uma delas era minha filha Valquíria.

                   O médico aparece na recepção. Ronaldo se levanta prontamente e vai até ele. 



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