No capítulo anterior, Sandro deixa Zuleica no hospital
e vai buscar Valquíria no colégio. Enquanto isso, a garota, cansada de esperar
resolve ir a pé para casa. Nisso, é sequestrada por dois homens mal encarados
que a levam num carro preto, não percebendo que a mochila da garota havia caído
no chão. Sandro chega ao colégio e conversa com o diretor. Este informa que os
estudantes do período da manhã já haviam saído, restando ao pai de Valquíria ir
procurá-la em casa. Na casa de D. Vânia, Carlinhos está irritado e não deseja
falar com ninguém. Nem mesmo com Débora, com quem brincava e fazia a lição de
casa todos os dias. No hospital, Ronaldo aproxima-se de Zuleica e eles acabam
relembrando o incêndio que aconteceu há 14 anos naquele local. Falam dos bebês
salvos pelos bombeiros e descobrem ter filhas que nasceram naquele mesmo dia.
CENA 1 – HOSPITAL E
MATERNIDADE LUZ/RECEPÇÃO – INT./DIA
O
médico traz informações sobre a última paciente a dar entrada no hospital.
MÉDICO
Alguém
da família da senhora Eleonora Alves Nascimento.
RONALDO
Eu, eu... sou o marido dela. Como ela está, doutor?
MÉDICO
Fique
calmo, senhor...
RONALDO
Ronaldo. Meu nome é Ronaldo.
MÉDICO
Fique calmo, senhor Ronaldo. Sua esposa passa bem. Vai
ficar engessada, pois fratura uma perna...
Da
poltrona, Zuleica esboça um sorriso, fazendo figa para que esta seja a pessoa a
quem atropelou.
RONALDO
Se não é nada
grave, por que demorou tanto, doutor?
MÉDICO
É que ela bateu a cabeça e ficou desacordada.
RONALDO
(Chacoalhando o médico pelos ombros)
Ela já vai poder ir embora, não vai?
Diz que vai, doutor!
MÉDICO
Calma, calma. Vai,
mas não já. Terá que esperar mais umas quatro horas. Ela ainda está em observação
por ter batido a cabeça.
CENA 2 – CALÇADA NO
CENTRO DA CIDADE – EXT./DIA
Um rapaz aparentando uns 25 anos, com uma pasta em uma
das mãos, aparece caminhando apressadamente. A certa distância avista a mochila
rosa de Valquíria. Avança mais rápido em direção ao objeto. Aproximando-se,
abaixa, examina o material.
JOVEM
É a mochila de um estudante.
Abre
a bolsa. Retira um caderno. Olha.
JOVEM
Mas como alguém
consegue perder uma mochila, e ainda por cima com todo o material dentro? A
menos que tenha jogado aqui, de propósito... Ou teria sido vítima de bulling.
Deve pertencer a algum estudante do Colégio Paulo Freire que é para onde estou
indo. Só pode ser de lá, pois é o único que fica próximo daqui.
O
jovem continua a caminhada. De longe avista o diretor Anselmo abrindo o portão
do colégio.
JOVEM
(Grita)
Senhor, por favor! (Corre)
Anselmo
espera o jovem do lado de fora, ainda na calçada.
DIRETOR
Pois não? É comigo?
JOVEM
Sim, senhor. (Apresenta a mochila)
Talvez isto pertença a algum estudante deste colégio.
DIRETOR
(Pegando
a mochila)
Pode ser, mas onde estava?
JOVEM
Encontrei na calçada há uns duzentos
metros daqui.
DIRETOR
(Abrindo e
examinando a bolsa)
Hummm, deixe ver.
Valquíria. Eu tenho sim algumas estudantes com esse nome. Mas de qual delas
será? Não tem o nome completo aqui.
JOVEM
Bom.
Está entregue.
DIRETOR
Obrigado,
jovem. Agora com licença que tenho mais um turno de trabalho.
JOVEM
Não
é só isso. Preciso falar com o diretor do colégio.
DIRETOR
Ora,
que cabeça a minha. Nem me apresentei. Diretor Anselmo ao seu dispor.
JOVEM
Que
bom. Eu sou Analista de Sistemas e vim propor um projeto de informática para o
colégio.
DIRETOR
Que
maravilha! Vamos até meu gabinete. Lá conversaremos melhor.
CENA 3 – CASA DE
DONA VÂNIA/SALA – INT./DIA
Dona Vânia está na sala de estar vendo televisão com a
neta.
VÂNIA
Que carinha mais tristinha é essa?
DÉBORA
Será que Carlinhos vai voltar a
falar comigo, vovó?
VÂNIA
Claro que vai, querida! Isso vai
passar!
DÉBORA
Mas a gente poderia brincar, assim
ele se distraía...
VÂNIA
Ele não quer se distrair, pelo
jeito. Quer pensar em tudo que está acontecendo.
DÉBORA
Mas será que ele tá achando que eu
tenho culpa. Ele foi muito mal-educado comigo.
VÂNIA
Não. Isso foi uma reação nervosa.
Você vai ver. Já, já ele entra por aquela porta pedindo desculpa.
DÉBORA
(Fazendo o gesto de pequeno com os dedos)
Posso dar uma
olhadinha assim, pela janela pra ver o que ele está fazendo?
VÂNIA
Claro, mas não deixa ele perceber ou
vai ficar bravo com você.
D. Vânia vai para a cozinha. Débora caminha pela sala
até a janela. Ela olha em direção ao pezinho de limão. Carlinhos não está lá. Débora
sai para procurá-lo pelo quintal. Volta, instantes depois, desesperada.
DÉBORA
Vovó! Vovó!
D.
Vânia, limpando as mãos num pano de prato, volta correndo para a sala a ver o
que estava acontecendo.
VÂNIA
Que foi menina? O que aconteceu?
DÉBORA
Carlinhos não está mais lá embaixo
do pezinho de limão. Ele sumiu.
VÂNIA
Não pode ser. Faz o seguinte. Vai
até o quintal e procure. Ele deve estar em outro canto.
DÉBORA
Já olhei por toda a parte. O
Carlinhos não está em lugar nenhum.
CENA 4 – HOSPITAL E
MATERNIDADE LUZ/RECEPÇÃO – INT./DIA
Zuleica respira
aliviada. Levanta-se, dá uma volta. Volta por lugar. O médico sai. Ronaldo
volta para a poltrona com mais tranquilidade.
ZULEICA
Que bom que sua esposa está bem!
RONALDO
É. Não aguento mais ficar aqui com
minhas lembranças.
ZULEICA
Eu também.
RONALDO
Espero que sua
amiga também esteja bem. Se bem que até agora nenhum médico veio pra falar
dela, né?
ZULEICA
É. Já estou ficando preocupada.
RONALDO
Com a sua amiga?
ZULEICA
Não. Com minha filha!
RONALDO
Ué. A senhora não disse que era uma
amiga que estava internada?
ZULEICA
Pois é, foi isso
que eu disse. Mas agora eu estou falando da minha filha que está no colégio me
esperando. Meu marido foi lá buscá-la, mas tá demorando demais pra voltar.
RONALDO
A sua amiga deu entrada aqui quando,
hoje?
ZULEICA
Sim. Faz uma hora.
RONALDO
Então entrou junto
com a minha mulher. Faz uma hora. Eu lembro que eu tinha acabado de sair pro
almoço quando me telefonaram daqui.
Zuleica começa a chorar.
RONALDO
Que isso, dona? Fica calma. Daqui a
pouco o médico volta e vai dar boa notícia da sua amiga.
ZULEICA
O senhor não sabe
como estou me sentindo. Tudo acontecendo ao mesmo tempo. Eu com trauma deste
hospital, tendo que ficar aqui sozinha. Meu marido que demora pra chegar com
minha filha. E ainda tem a mulher que eu atropelei...
RONALDO
achei muito empolgante
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