12 de agosto de 2012

Povo ou Polvo?

Quando a Apas – Associação Paulista de Supermercados decidiu junto ao Governo de São Paulo que não se distribuiria mais sacolas plásticas nos supermercados, achei a ideia fantástica. Ver aquela montanha se sacolas feitas de plásticos resistentes, que levam milhares de anos para se decomporem, sendo aterrados com o lixo orgânico me causava indignação.


Em casa, pelo menos dez anos antes dessa ideia aparecer, eu já comprava em Atacados e utilizava as boas caixas de papelão, que muitas vezes ficavam guardadas e acabavam cumprindo a função de embalagens retornáveis.
Depois que o plano da Apas foi colocado em prática, percebi a ideia sórdida que foi aquela. Com o pretexto de preservação do meio ambiente, o empresariado colocou nas costas do consumidor toda a responsabilidade desta missão. E o que fizeram os donos dos grandes supermercados, para participarem desse ato de cidadania? Simplesmente, anunciaram a venda, isso mesmo, a venda de sacolas alternativas, ditas “sustentáveis” e, como se fosse pouco, ainda mantiveram ou aumentaram preços.
O que se esperava de uma ideia brilhante é que, no mínimo, preços fossem abaixados, pois todo mundo sabe que neles já estavam embutidos os valores referentes a despesas com a distribuição das sacolas.
Se ao menos, ao chegar nos supermercados tivéssemos o incentivo de preços melhores, você e eu poderíamos encarar a medida com a maior tranquilidade.
O que causa minha indignação agora é a postura do empresariado ao jogar nas costas do povo, uma responsabilidade que é de todos.
É bom lembrar que, quando se fala em responsabilidade, esta é, em grau, proporcional à prática e ao uso dos bens de consumo e da produção de resíduos. Explico: a responsabilidade pela preservação do meio ambiente é muito maior para um empresário da indústria, do que para um cidadão comum assalariado, cujo rendimento é um salário mínimo por mês. Você entende o que eu quero dizer com o grau da responsabilidade de cada um? Quem suja mais, tem mais a limpar.
Se o grande vilão da história é o plástico, não seria lógico que todas as embalagens plásticas da imensa gama de produtos industrializados, fossem substituídos também?
Quero parabenizar, redes como Novo Atacado, Máximo, Dia ,  e outros pequenos empreendimentos pelo respeito aos seus clientes, pelo fato de continuarem distribuindo gratuitamente as sacolas (e biodegradáveis), mesmo enquanto a Apas trava forte queda de braço contra a justiça que se posicionou ao lado do consumidor.
A justiça, nesta última semana, ordenou a volta das sacolinhas gratuitas, pois a venda de qualquer outro material alternativo fere o código do consumidor, quando impõe aos clientes o ônus da proteção do meio ambiente.  Tão clara é a intenção da Apas e do Governo do Estado, de favorecer a grande rede de supermercados, é o que li ainda há pouco. Logo depois da decisão da justiça, a Associação, tão generosa com o meio ambiente, numa tentativa de barrar a volta das sacolas gratuitas, apareceu com a proposta da venda das ditas cujas por preços módicos, de sete a vinte e cinco centavos.
Vou continuar lamentando o fato de as pessoas não terem consciência e continuarem a dispor seu lixo orgânico, o que vai para debaixo da terra, nas sacolinhas, em vez do uso dos sacos biodegradáveis próprios. Porém, do jeito que estava, com o empresariado dos grandes estabelecimentos, cantando vitória, e faturando alto às nossas custas, não dava para continuar.


Quero seguir sendo chamado de povo, e não de polvo, como pensa o grupo que tirou as sacolas. Quero dizer que não sou uma aberração, pois não tenho oito braços para carregar minhas compras.

© Carlos José dos Santos – Todos os Direitos Reservados



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