Por que a escuridão do medo perpassa justamente as
noites mais claras do ano, quando reina soberana a lua na sua plena maturidade?
Sob sua
guarda estão as histórias mais aterrorizantes e debaixo de seus olhares as
figuras mais esquisitas, assombradas e deslumbrantes que se possa imaginar.
A
Lua-cheia é uma ótima contadora de histórias, uma brilhante inspiradora de
histórias, e a ela estão associados os monstrengos e os entes mais fantásticos
da cultura brasileira.
Sem sombra de dúvida, não há ninguém melhor
que a Lua-cheia da Terra para contar a outras “luas”, o que viu e ouviu,
principalmente nas sextas-feiras 13, nos meses de agosto, nas noites mais
transluzentes, nas matas, nas clareiras, em todo o Brasil.
É a nossa
lua quem pode traduzir a visão amedrontada dos povos indígenas, a ingênua
simplicidade dos sertanejos, o estranhamento, dúvidas e pavores dos famosos
visitantes, através da arte de contar histórias, quando o público é formado por
suas vizinhas curiosas e semelhantes que também giram no espaço em torno de
outros planetas.
A
Lua-cheia da Terra, diante de tantas riquezas culturais, vampiros da Alemanha e
Romênia, bruxas e fantasmas dos países da América do Norte, múmias do Oriente
Médio e deuses da Grécia e Roma antigas, encantar-se-á justamente com o
Saci-pererê, Curupira, Caipora, Homem-do-saco, Bicho-papão e outros seres de um
país criança chamado Brasil.
Antes que
nossas lendas sejam esquecidas, antes que nossos mitos deixem de aparecer nos
livros, nas revistas e não haja mais qualquer material sobre eles, a maior
contadora de histórias do universo vem preservar este tesouro maravilhoso
escondido em terras brasileiras, em matas brasileiras.
Antes que o negrinho de uma perna só
deixe de aprontar suas traquinagens, que a sereia Iara pare de encantar os
homens com seu canto mágico, que o Homem-do-saco desista de pegar criancinhas
desobedientes para fazer mingau, que o Bicho-papão se canse de assustar crianças
no escuro porque não querem dormir, que o Curupira desista de enganar os
caçadores com seus rastros invertidos, antes que o Lobisomem perca a vontade de
uivar amorosamente para a lua cheia em suas noites; apareça esta mesma lua,
poderosa e sábia, a contar às crianças e aos jovens as suas mais arrepiantes e
interessantes histórias.
Viva a
Mitologia Brasileira!
© Carlos José dos Santos - Todos os Direitos Reservados
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